sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sonhos de Einstein

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19 de Abril de 1905


É uma manhã fria de novembro e caiu a primeira neve. Um homem vestindo um longo casaco de couro está na sacada do seu apartamento no quarto andar na Kramgrasse observando a fonte Zähringer e a rua branca logo abaixo. A leste, ele pode ver o frágil campanário da catedral de St. Vincent e, a oeste, o telhado arqueado do Zytgloggeturn. Mas o homem não está olhando para leste ou oeste. Ele está com os olhos fixos em um pequeno chapéu vermelho deixado na neve e está pensando. Deve ir à casa da mulher em Friburgo? Suas mãos agarram a balaustrada de metal, soltam-na, agarram-na novamente. Deve visitá-la? Deve visitá-la?

Decide não se encontrar mais com ela. Ela é manipuladora e autoritária e poderia tornar sua vida um inferno. Talvez nem estivesse mesmo interessada nele. Em vez disso, ele decide continuar na companhia de homens. Trabalha duro na farmácia, onde mal nota a subgerente. À noite vai para a brasserie na Kochergasse com seus amigos e bebe cerveja, e aprende a fazer fondue. Depois, três anos mais tarde, conhece uma outra mulher em uma loja de roupas de Neuthâtel. Ela é simpática. Faz amor com ele, muito lentamente, durante alguns meses. Após um ano, vem morar com ele em Berna. Eles vivem tranqüilamente, caminham juntos à margem do Aare, fazem companhia um ao outro, envelhecem felizes.

No segundo mundo, o homem com o longo casaco de couro decide que precisa encontrar a mulher de Friburgo novamente. Ele mal a conhece, ela pode ser manipuladora e seus movimentos sugerem volatilidade, mas aquela expressão suave quando ela sorri, aquela risada, aquele jeito inteligente de usar as palavras. Sim, precisa encontrá-la de novo. Ele vai até a casa dela em Friburgo, senta no sofá ao seu lado, em poucos instantes percebe seu coração galopando e sente-se minado diante da brancura dos braços dela. Eles fazem amor ruidosa e apaixonadamente. Ela o convence a mudar-se para Friburgo. Ele larga seu emprego em Berna e começa a trabalhar na agência postal de Friburgo. Ele queima de tanto amor por ela. Todo dia, ele vem para casa ao meio-dia. Eles comem, discutem, ela reclama que precisa de mais dinheiro, ele protesta, ela arremessa panelas contra ele, eles fazem amor novamente, ele volta à agência postal. Ela ameaça deixá-lo, mas não deixa. Ele vive para ela e está feliz com sua angústia.

No terceiro mundo, o homem também decide que precisa encontrá-la novamente. Ele mal a conhece, ela pode ser manipuladora e seus movimentos sugerem volatilidade, mas aquele sorriso, aquela risada, aquele jeito inteligente de usar as palavras. Sim, precisa encontrá-la de novo. Ele vai à casa dela em Friburgo, encontra-a na porta, toma chá com ela na mesa da cozinha. Eles conversam sobre o trabalho dela na biblioteca, o emprego dele na farmácia. Depois de uma hora, ela diz que precisa sair para ajudar um amigo, diz adeus, e eles se despedem com um aperto de mãos. Ele viaja os trinta quilômetros de volta a Berna, sente-se vazio durante a viagem de trem, sobe para seu apartamento no quarto andar da Kramgrasse, vai para a sacada e fica olhando o pequeno chapéu vermelho deixado na neve.

Estas três cadeias de eventos realmente acontecem, simultaneamente. Pois, neste mundo, o tempo tem três dimensões, como o espaço. Assim como um objeto pode mover-se em três direções perpendiculares, horizontal, vertical e longitudinal, um objeto também pode participar de três futuros perpendiculares. Cada futuro move-se em uma direção diferente do tempo. Cada futuro é real. Em cada ponto de decisão, seja ela visitar uma mulher em Friburgo ou comprar um casaco novo, o mundo divide-se em três mundos, cada qual com as mesmas pessoas, mas com destinos diferentes para elas. No tempo, há uma infinidade de mundos.

Alguns não se importam com decisões, argumentando que todas as decisões possíveis ocorrerão. Em um mundo como este, como uma pessoa pode ser responsável pelos seus atos? Outros afirmam que cada decisão deve ser examinada e tomada com espírito de comprometimento, pois sem comprometimento há caos. Essas pessoas são felizes por viverem em mundos contraditórios, desde que saibam a razão para cada um deles".


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