terça-feira, 8 de dezembro de 2009

E Estamos Conversados.

(Arnaldo Antunes)

Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante
que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando,
que eles querem mesmo é reclamar,
como uma risada na minha orelha, ou como uma abelha, ou qualquer outra coisa pentelha,
sobre as vidas alheias, ou como elas são feias,
ou como estão cheias de tanto esconderem segredos
que todo mundo já sabe, ou se não sabe desconfia
Eu não vou mais ficar ouvindo distraído eles falarem deles e do que eles fariam se fosse com eles
e o que eles não fazem de jeito nenhum, como se interessasse a qualquer um.
Eles são: as pessoas, todas as pessoas, fora os mudos.
Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois,
falem longe da minha janela por favor, se for para falar do meu amor.
Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador.
Campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais, pelo menos por enquanto.
Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico.
E estamos conversados.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pressa...

Quem tem pressa come no drive-thru.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Vocación de andar buscando
una causa, una razón
la palabra más certera
que me copie la emoción
con la chacarera doble
voy cantando y me voy..."

De Aca Seca Trio

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um Dia Útil...

Um Dia Útil
(Maurício Pereira) Warner Chappell
Daniel: piano, voz.
Maurício: voz, assobio, arranjo.

de manhã eu levantei, fiz xixi
li o jornal
sem escovar o dente

tomei café com leite (como sempre correndo)
me arrumei, fui trabalhar
nem lembrei de dizer tchau pro povo lá de casa

fui tocar música com meus amigos músicos
e aí eu canto (o dia inteiro eu canto)
e canto, e canto, e canto, e canto

às vezes pra ninguém porque é um ensaio
às vezes pra ninguém mesmo não sendo ensaio
mas sempre junto com meus amigos músicos

e quando vai uma multidão
parece que eu sou tão importante
depois acaba tudo
e eu volto quieto pra casa

e quando eu chego lá em casa
tá todo o mundo dormindo
tá tudo escuro
escuro pra burro

eu fico olhando a rua pela janela de casa
é madrugada
eu sozinho com eles dormindo

desligo
a última luz da casa
vou dando trombada
até o quarto dos moleques

cubro eles, um por um
beijo eles, um por um
tropeço um bocado
pra chegar na minha cama

eu dou
um beijo leve e demorado
nos cabelos
da minha mulher que dorme

eu tiro a roupa
eu deito acordado
eu tô nu
eu me cubro
olhos arregalados numa fresta de luz no teto

e eu sonho sozinho
com meu coração pequenininho
minha compreensão também pequenininha
do conjunto das coisas todas

eu, o medo da morte, e tudo o mais
sonhando sozinho, eu me pergunto
se quando a gente canta alguém presta atenção na letra

mas eu tento tentar dormir
e aí vem aquele monte de dúvidas
que a gente tem quando trabalha como artista

e vem fé e vem tristeza e vem alegria
e tesão e neura e fantasia
e dionísio e ditadura

e eu não sei, não sei, não sei, não sei…
eu pego no sono
eu preciso dormir um pouco
e sonhar muito

porque se o cara não descansa ele não canta direito
e não leva sustança
pro coração do cidadão comum

e amanhã é mais um grande dia
um dia comum de muito trabalho
um dia grande
que nem um diamante

um longo dia belo
um baita dia duro e lindo
e eu ganho pra estar brilhante
num dia útil

um dia útil
um dia útil
um dia útil

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Defesa de Tese

Conflito banca versus autor da tese...

- Li sua tese e quero saber: você não sabe o que é vírgula?

Resposta:

- E você, não sabe quem é Saramago?


(inspirado em Rodrigo Amorim).

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Folcloreishon Ciclo

Vale a pena ver e OUVIR:

http://www.myspace.com/folcloreishonciclo

sábado, 1 de agosto de 2009

A Síndica

- Oi. Vim buscar o controle do estacionamento.
- Você não tem carro, não vou dar o controle agora.
- Mas eu tenho vaga e uso a vaga.
- Não vou dar o controle.
- Mas eu pago o condomínio em dia, pago IPTU da vaga, e paguei pelo controle inclusive.
- Não, não, não.

Moral da história: perdi o controle, literalmente.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida"

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 15 de junho de 2009

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhh!!!!

Obrigada pela atenção.

sábado, 4 de abril de 2009

"Sujeito Moderno, Sujeito Neurótico"

"Ao mesmo tempo, escreve Corbin (...), "as regras de transmissão familiar dos nomes perdem sua autoridade. (...) O enfraquecimento das regras de transmissão familiar traduz o definhar das virtudes hereditárias e ao mesmo tempo vaticinadoras do prenome. A perda da fé na existência de um patrimônio de caráter transmitido pela denominação evidentemente trabalha a favor do individualismo". Tal perda da fé nas condições imaginárias do patrimônio (simbólico) herdado produziu na modernidade, a meu ver, um forte sentimento de desamparo e responsabilidade diante do destino pessoal; sentimento que facilmente se transforma em culpa neurótica pela impossibilidade de cumprir com os ideais contraditórios que orientam este destino.

(...)

"Conflito de gerações": quando as tradições deixam de dar conta de situar os indivíduos em um mundo que, a cada nova geração, encontra-se modificado em relação ao que a geração anterior conseguiu elaborar.

(...)

Desse modo, cada sujeito passa a carregar nos ombros a tarefa de tentar compreender o mundo por si mesmo, de estabelecer-se nele com grande esforço para, em seguida, ser destituído ou no mínimo contestado pela geração seguinte.

(...)

A dificuldade é que o filho não herda apenas um mandato familiar; sendo também, como escreve Perrot, um objeto privilegiado do investimento amoroso dos pais, ele é herdeiro de toda uma série de novas exigências para com sua própria felicidade e realização individuais. "


Trechos do livro 'Deslocamentos do Feminino' (cap. I), de Maria Rita Kehl.

segunda-feira, 9 de março de 2009

"Para quem não sabe onde vai, não existem ventos favoráveis"...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sobre a Criatividade...

"A elaboração de possibilidades específicas da matéria permite que se alcancem maiores conhecimentos e um aprofundamento de trabalho. Um químico poderá ser criativo na química porque formula suas perguntas em termos de química e não porventura em termos de alquimia. Entretanto, se esse químico nada mais vê pela frente do que química, se todos os seus interesses e também os conteúdos de vida se resumem quase que exclusivamente em problemas de "especialista", especializações dentro de especialidades, de fato, ele há de viver uma enorme redução enquanto possibilidades humanas. E por maior que seja o seu talento e sua eficiência, esse reducionismo poderá até esvaziar o sentido de criatividade que ele tenha dentro do trabalho profissional.

É bem verdade que, no nível da tecnologia moderna e das complexidades de nossa sociedade, exige-se dos indivíduos uma especialização extraordinária. Esta, todavia, pouco tem de imaginativo. De um modo geral, restringe-se, praticamente em todos os setores de trabalho, a processos de adestramento técnico, ignorando no indivíduo a sensibilidade e a inteligência espontânea do seu fazer. Isso, absolutamente, não corresponde ao ser criativo.

Como experiência de vida e de trabalho, os processos de identificação com uma matéria, os processos de aprofundamento e de pesquisa que envolvem uma espécie de empatia com a essência de um fenômeno e nos quais se baseiam a imaginação e o pensamento criativo, não podem ser confundidos com a mentalidade mecânica e unilateral da superespecialização. Ainda que nos seja impingida pelo meio social em termos de necessidade profissional, não precisamos vê-la como virtude, como algum ideal aspirável em termos de realização humana. Do modo como está sendo colocada e com a falta de abertura, não passa de um reducionismo que exclui da vida toda experiência valorativa. Exclui do viver o vivenciar. Já por essa indiferença pelo real da vida, a atitude básica da superespecialização carece de qualificações criativas.

(...)A imaginação criativa nasce do interesse, do entusiasmo de um indivíduo pelas possibilidades maiores de certas matérias ou certas realidades. Provém de sua capacidade de se relacionar com elas. Pois, antes de mais nada, as indagações constituem formas de relacionamento afetivo, formas de respeito pela essencialidade de um fenômeno. À afetividade vinculam-se sentimentos e interesses que ultrapassam qualquer tipo de superespecialização (...).

O vício de considerar que a criatividade só existe nas artes, deforma toda a realidade humana. Constitui uma maneira de encobrir a precariedade de condições criativas em outras áreas de atuação humana. (...)Constitui, certamente, uma maneira de desumanizar o trabalho. Reduz o fazer a uma rotina mecânica, sem convicção ou visão ulterior da humanidade. Reduz a própria inteligência humana a um vasto arsenal de informações 'pertinentes', não relacionáveis entre si e desvinculadas dos problemas prementes da humanidade. Nessas circunstâncias, como poderia o trabalho ser criativo? Pois não só se exclui do fazer o sensível, a participação interior, a possibilidade de escolha, do crescimento e de transformação, como também se exclui a conscientização espiritual que se dá no trabalho através da atuação significativa, e sobretudo significativa para si em termos humanos.

Enquanto o fazer humano é reduzido ao nível de atividades não-criativas, joga-se para as artes uma imaginária supercriatividade (...)."

Trecho do livro "Criatividade e Processos de Criação", de Fayga Ostrower.

O tempo... O meu tempo...

Na vida não dá tempo... Eu não tenho tempo... Não ando fazendo muita coisa, mas não tenho tempo, nunca. Acordo, e mal tomei café, já tenho que almoçar, o que faço rapidamente, ou não faço, porque já tenho que pegar o metrô, e depois já tenho que pegar o ônibus, e vou falar um oi rápido pra galera porque já vai começar a aula, e durante a aula nem dá muito tempo de todo mundo falar, nem de todo mundo ouvir, já está na hora de ir embora, e de pegar o ônibus, e de pegar o metrô, e de chegar em casa, e cumprimentar rapidamente o porteiro, e conversar um pouco com o marido, e conversar um pouco com o cachorro, e fazer o que tenho pra fazer, lavar louça, ver e-mail, ler um pouco, pensar rapidamente em alguns projetos, pensar rapidamente em trabalhos, e passar rapidamente pelos canais da televisão, porque não há nada de bom passando, e quando há, não deu tempo de ver o programa inteiro, e já está na hora de dormir, e me viro para um lado, e me viro para o outro, e mal deu pra dormir, mas já está na hora de acordar... E assim seguem quase todos os dias...

De repente, o tempo pára! Subitamente, não sei se uma forte rajada de vento chinês, ou uma força superior qualquer me dá uma "patada" nas costas, me joga pelos ares... e o tempo pára. Tudo pára... Até a respiração parece que pára.

E eu me pergunto qual o sentido do tempo que passou? E o que devo fazer com o tempo que tenho agora e que já começou a passar tão rápido novamente que mal me dou conta se deu tempo de perceber?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Memórias

"Milhões de imagens foram destruídas desde o advento da fotografia, inúmeras em virtude de catástrofes e guerras, porém, a maioria, certamente, pela própria vontade do homem. Desaparecidos os referentes, ficaram apenas as representações. Essas ainda são mantidas pelos descendentes mais próximos, até o momento em que, mais tarde, passam a ocupar demasiado espaço nas casas dos descendentes afastados; em épocas mais recentes essas imagens já se constituem, efetivamente, num estorvo: vidros partidos, fundos dos quadros furados, molduras lascadas, manchas e mofos... Além dos avós jovens na clássica pose da cerimônia matrimonial ou do bisavô na idade do colégio, alguns tios afastados, primos de alguém que alguém da família conheceu, não se sabe bem quem, nem onde... amigos de amigos, sem nome e sem lembrança. Inúmeros estranhos e mais estranhos co-habitando álbuns danificados e velhas caixas de sapatos onde se amontoam cartas saudosas e antigas fotografias.

Essa gente toda, inquilinos desconhecidos da memória, deve ser de alguma forma desalojada, despejada... e o é de várias maneiras: queimada, sumariamente jogada no lixo, vendida em meio a pacotes de jornais velhos, por quilo, ou então arrematada juntamente com bibliotecas para ser vendida por unidade nos sebos ou feiras dominicais, ou adquirida juntamente com o mobiliário das casas pelos antiquários, ou então, desde há muito, perdida nos porões das antigas sedes das fazendas, ou nos armazéns abandonados das fábricas desativadas. Neste processo de deterioração da memória familiar, imagens de pais e filhos, maridos e mulheres, irmãos e parentes se separam definitivamente. Holocausto da representação, ruptura da memória. Entre os sobreviventes da destruição física restam poses e rostos esmaecidos tomados em fundos de quintais desreferencializados. Fantasmas da memória, sem passado e sem futuro."

Do livro 'Realidades e Ficções na Trama Fotográfica', de Boris Kossoy.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009


Pouco, pouquíssimo, nada pra contar. Somente pensamentos confusos que vão e vem, não tristes, nem felizes, às vezes tristes, às vezes felizes, que eu nem conseguiria transformar em palavras... Em mal consigo transformá-los em pensamentos realmente coerentes. Por isso não digo nada... Por isso essa timidez verbal.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Imagem.

"A comunicação não-verbal ilude e confunde. Deve-se, no entanto, 'perceber na imagem o que está nas entrelinhas, assim como fazemos em relação aos textos', como bem colocaram Weinstein & Booth: '(...) precisamos aprender a esmiuçar as fotografias criticamente, interrogativamente e especulativamente. (...) No que uma boa fotografia desvenda para o olho e a mente compreensiva, ela falhará em desvendar para o olho apressado'. Tal é o desafio a enfrentar. Não deixar de ousar na interpretação: esta é a tarefa.

(...)

O significado mais profundo da imagem não se encontra necessariamente explícito. O significado é imaterial; jamais foi ou virá a ser um assunto visível passível de ser retratado fotograficamente. O vestígio da vida cristalizado na imagem fotográfica passa a ter sentido no momento em que se tenha conhecimento e se compreendam os elos da cadeia de fatos ausentes da imagem. Além da verdade iconográfica. "

Trecho do livro 'Fotografia & História', de Boris Kossoy
Sou uma pessoa teórica...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Tem um congestionamento aqui dentro de mim. São muitas pessoas querendo falar, se exibir, se expressar. Achei que estava entrando num período de calmaria, a maturidade afinal, e de repente esse furacão. As incompatibilidades de conceitos, o sobe-e-desce emocional, é um mulherio afoito que parece não caber no meu corpo pequeno. Será que a estatura de uma pessoa é proporcional à dose de contradições que lhe são permitidas em vida? (...) Será que antes de a pessoa encarnar botam num curso preparatório pra vida que ela terá? Devo ter perdido ensinos indispensáveis, o de controle dos pequenos ímpetos certamente. Na verdade, sou magnífica nas situações de impacto, mas me enrolo vergonhosamente com as minúcias do dia-a-dia. E a vida é feita do corriqueiro."

Do livro Uma Vida Inventada: Memórias Trocadas e Outras Histórias (Maitê Proença)