quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sobre a Criatividade...

"A elaboração de possibilidades específicas da matéria permite que se alcancem maiores conhecimentos e um aprofundamento de trabalho. Um químico poderá ser criativo na química porque formula suas perguntas em termos de química e não porventura em termos de alquimia. Entretanto, se esse químico nada mais vê pela frente do que química, se todos os seus interesses e também os conteúdos de vida se resumem quase que exclusivamente em problemas de "especialista", especializações dentro de especialidades, de fato, ele há de viver uma enorme redução enquanto possibilidades humanas. E por maior que seja o seu talento e sua eficiência, esse reducionismo poderá até esvaziar o sentido de criatividade que ele tenha dentro do trabalho profissional.

É bem verdade que, no nível da tecnologia moderna e das complexidades de nossa sociedade, exige-se dos indivíduos uma especialização extraordinária. Esta, todavia, pouco tem de imaginativo. De um modo geral, restringe-se, praticamente em todos os setores de trabalho, a processos de adestramento técnico, ignorando no indivíduo a sensibilidade e a inteligência espontânea do seu fazer. Isso, absolutamente, não corresponde ao ser criativo.

Como experiência de vida e de trabalho, os processos de identificação com uma matéria, os processos de aprofundamento e de pesquisa que envolvem uma espécie de empatia com a essência de um fenômeno e nos quais se baseiam a imaginação e o pensamento criativo, não podem ser confundidos com a mentalidade mecânica e unilateral da superespecialização. Ainda que nos seja impingida pelo meio social em termos de necessidade profissional, não precisamos vê-la como virtude, como algum ideal aspirável em termos de realização humana. Do modo como está sendo colocada e com a falta de abertura, não passa de um reducionismo que exclui da vida toda experiência valorativa. Exclui do viver o vivenciar. Já por essa indiferença pelo real da vida, a atitude básica da superespecialização carece de qualificações criativas.

(...)A imaginação criativa nasce do interesse, do entusiasmo de um indivíduo pelas possibilidades maiores de certas matérias ou certas realidades. Provém de sua capacidade de se relacionar com elas. Pois, antes de mais nada, as indagações constituem formas de relacionamento afetivo, formas de respeito pela essencialidade de um fenômeno. À afetividade vinculam-se sentimentos e interesses que ultrapassam qualquer tipo de superespecialização (...).

O vício de considerar que a criatividade só existe nas artes, deforma toda a realidade humana. Constitui uma maneira de encobrir a precariedade de condições criativas em outras áreas de atuação humana. (...)Constitui, certamente, uma maneira de desumanizar o trabalho. Reduz o fazer a uma rotina mecânica, sem convicção ou visão ulterior da humanidade. Reduz a própria inteligência humana a um vasto arsenal de informações 'pertinentes', não relacionáveis entre si e desvinculadas dos problemas prementes da humanidade. Nessas circunstâncias, como poderia o trabalho ser criativo? Pois não só se exclui do fazer o sensível, a participação interior, a possibilidade de escolha, do crescimento e de transformação, como também se exclui a conscientização espiritual que se dá no trabalho através da atuação significativa, e sobretudo significativa para si em termos humanos.

Enquanto o fazer humano é reduzido ao nível de atividades não-criativas, joga-se para as artes uma imaginária supercriatividade (...)."

Trecho do livro "Criatividade e Processos de Criação", de Fayga Ostrower.

O tempo... O meu tempo...

Na vida não dá tempo... Eu não tenho tempo... Não ando fazendo muita coisa, mas não tenho tempo, nunca. Acordo, e mal tomei café, já tenho que almoçar, o que faço rapidamente, ou não faço, porque já tenho que pegar o metrô, e depois já tenho que pegar o ônibus, e vou falar um oi rápido pra galera porque já vai começar a aula, e durante a aula nem dá muito tempo de todo mundo falar, nem de todo mundo ouvir, já está na hora de ir embora, e de pegar o ônibus, e de pegar o metrô, e de chegar em casa, e cumprimentar rapidamente o porteiro, e conversar um pouco com o marido, e conversar um pouco com o cachorro, e fazer o que tenho pra fazer, lavar louça, ver e-mail, ler um pouco, pensar rapidamente em alguns projetos, pensar rapidamente em trabalhos, e passar rapidamente pelos canais da televisão, porque não há nada de bom passando, e quando há, não deu tempo de ver o programa inteiro, e já está na hora de dormir, e me viro para um lado, e me viro para o outro, e mal deu pra dormir, mas já está na hora de acordar... E assim seguem quase todos os dias...

De repente, o tempo pára! Subitamente, não sei se uma forte rajada de vento chinês, ou uma força superior qualquer me dá uma "patada" nas costas, me joga pelos ares... e o tempo pára. Tudo pára... Até a respiração parece que pára.

E eu me pergunto qual o sentido do tempo que passou? E o que devo fazer com o tempo que tenho agora e que já começou a passar tão rápido novamente que mal me dou conta se deu tempo de perceber?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Memórias

"Milhões de imagens foram destruídas desde o advento da fotografia, inúmeras em virtude de catástrofes e guerras, porém, a maioria, certamente, pela própria vontade do homem. Desaparecidos os referentes, ficaram apenas as representações. Essas ainda são mantidas pelos descendentes mais próximos, até o momento em que, mais tarde, passam a ocupar demasiado espaço nas casas dos descendentes afastados; em épocas mais recentes essas imagens já se constituem, efetivamente, num estorvo: vidros partidos, fundos dos quadros furados, molduras lascadas, manchas e mofos... Além dos avós jovens na clássica pose da cerimônia matrimonial ou do bisavô na idade do colégio, alguns tios afastados, primos de alguém que alguém da família conheceu, não se sabe bem quem, nem onde... amigos de amigos, sem nome e sem lembrança. Inúmeros estranhos e mais estranhos co-habitando álbuns danificados e velhas caixas de sapatos onde se amontoam cartas saudosas e antigas fotografias.

Essa gente toda, inquilinos desconhecidos da memória, deve ser de alguma forma desalojada, despejada... e o é de várias maneiras: queimada, sumariamente jogada no lixo, vendida em meio a pacotes de jornais velhos, por quilo, ou então arrematada juntamente com bibliotecas para ser vendida por unidade nos sebos ou feiras dominicais, ou adquirida juntamente com o mobiliário das casas pelos antiquários, ou então, desde há muito, perdida nos porões das antigas sedes das fazendas, ou nos armazéns abandonados das fábricas desativadas. Neste processo de deterioração da memória familiar, imagens de pais e filhos, maridos e mulheres, irmãos e parentes se separam definitivamente. Holocausto da representação, ruptura da memória. Entre os sobreviventes da destruição física restam poses e rostos esmaecidos tomados em fundos de quintais desreferencializados. Fantasmas da memória, sem passado e sem futuro."

Do livro 'Realidades e Ficções na Trama Fotográfica', de Boris Kossoy.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009


Pouco, pouquíssimo, nada pra contar. Somente pensamentos confusos que vão e vem, não tristes, nem felizes, às vezes tristes, às vezes felizes, que eu nem conseguiria transformar em palavras... Em mal consigo transformá-los em pensamentos realmente coerentes. Por isso não digo nada... Por isso essa timidez verbal.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Imagem.

"A comunicação não-verbal ilude e confunde. Deve-se, no entanto, 'perceber na imagem o que está nas entrelinhas, assim como fazemos em relação aos textos', como bem colocaram Weinstein & Booth: '(...) precisamos aprender a esmiuçar as fotografias criticamente, interrogativamente e especulativamente. (...) No que uma boa fotografia desvenda para o olho e a mente compreensiva, ela falhará em desvendar para o olho apressado'. Tal é o desafio a enfrentar. Não deixar de ousar na interpretação: esta é a tarefa.

(...)

O significado mais profundo da imagem não se encontra necessariamente explícito. O significado é imaterial; jamais foi ou virá a ser um assunto visível passível de ser retratado fotograficamente. O vestígio da vida cristalizado na imagem fotográfica passa a ter sentido no momento em que se tenha conhecimento e se compreendam os elos da cadeia de fatos ausentes da imagem. Além da verdade iconográfica. "

Trecho do livro 'Fotografia & História', de Boris Kossoy
Sou uma pessoa teórica...