sábado, 4 de abril de 2009

"Sujeito Moderno, Sujeito Neurótico"

"Ao mesmo tempo, escreve Corbin (...), "as regras de transmissão familiar dos nomes perdem sua autoridade. (...) O enfraquecimento das regras de transmissão familiar traduz o definhar das virtudes hereditárias e ao mesmo tempo vaticinadoras do prenome. A perda da fé na existência de um patrimônio de caráter transmitido pela denominação evidentemente trabalha a favor do individualismo". Tal perda da fé nas condições imaginárias do patrimônio (simbólico) herdado produziu na modernidade, a meu ver, um forte sentimento de desamparo e responsabilidade diante do destino pessoal; sentimento que facilmente se transforma em culpa neurótica pela impossibilidade de cumprir com os ideais contraditórios que orientam este destino.

(...)

"Conflito de gerações": quando as tradições deixam de dar conta de situar os indivíduos em um mundo que, a cada nova geração, encontra-se modificado em relação ao que a geração anterior conseguiu elaborar.

(...)

Desse modo, cada sujeito passa a carregar nos ombros a tarefa de tentar compreender o mundo por si mesmo, de estabelecer-se nele com grande esforço para, em seguida, ser destituído ou no mínimo contestado pela geração seguinte.

(...)

A dificuldade é que o filho não herda apenas um mandato familiar; sendo também, como escreve Perrot, um objeto privilegiado do investimento amoroso dos pais, ele é herdeiro de toda uma série de novas exigências para com sua própria felicidade e realização individuais. "


Trechos do livro 'Deslocamentos do Feminino' (cap. I), de Maria Rita Kehl.

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