A esse respeito podemos dizer agora também eletronicamente. Os aspectos mecânicos - e não os manuais - do processo se unem, segundo ele, à ilusão da transparência do meio, da sua falta de sintaxe, dando essa extrema potencialidade de verossimilhança à fotografia. Se a fotografia como tecnologia teve, desde seus primórdios, uma intenção realista, científica, conforme aponta Coleman, a segunda batalha da fotografia foi liberar-se do imperativo do realismo.
Uma grande vertente assim começou a constituir-se, a dos fotógrafos e artistas que intervém no processo. Isso a partir de uma fotografia montada, encenada, construída em estúdio, por exemplo, ou na manipulação posterior das imagens fotográficas, como a fotomontagem e outras intervenções. (...) Coleman aponta essa vertente como a que se utiliza da fotografia segundo método dirigido, criando consciente e intencionalmente os acontecimentos com o objetivo expresso de fazer imagens a partir deles.
Dentro de uma intenção artística e longe de se contentar com o registro mecânico da realidade, alguns fotógrafos e artistas são apontados por Coleman, num breve histórico, a iniciar pela pioneira Julia Margaret Cameron. Acompanhando esse histórico vemos que a cisão entre fotografia de retratos e a representação realista se deu desde o início, na pesquisa de seus pioneiros, onde já se podem ver traços de idealização e ficcionalização da pessoa. A vontade de Cameron era aliar o real e o ideal. Dentro desse tipo de postura pode-se colocar também o trabalho de David Octavius Hill. A estética desses dois pioneiros e a intenção de valorizar a fotografia aproximando seus efeitos plásticos aos efeitos gerados por processos artísticos tradicionais foram alguns dos fatores que levaram ao movimento pictorialista de 1890 a 1920, nos Estados Unidos, França e Inglaterra. Mas a aproximação entre fotografia e as belas artes, como os pictorialistas desejaram era, de certo modo, superficial. isso porque os efeitos e motivos vindos da tradição artística eram simplesmente simulados através da técnica fotográfica. O grande problema foi a negação da linguagem fotográfica que já vinha se estabelecendo, em busca de uma falsa linguagem que imitava a linguagem pictórica e de outras técnicas como gravura e pastel, e que se adequasse às necessidades e ao gosto da época. Quanto à temática, houve também uma aproximação com os temas da arte tradicional e da literatura, a exemplo de Cameron e Hill. O pictorialismo entrou em um beco sem saída, teve sua dissolução, e só agora tem sido revisto e valorizado dentro da história da arte e da fotografia no que teve de produtivo".
Trecho de 'Rever: retratos ressignificados - A fotografia de retrato como fonte narrativa ficcional', de Rochele Boscaini Zandavalli.
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