domingo, 25 de março de 2012

Da fotografia realista à pictórica.

"Partindo do fato de que as pessoas crêem em fotografias, mais do que crêem em um desenho, uma escultura, uma pintura, uma gravura, em suma, mais do que em qualquer outro meio de representação artística, Coleman analisa quais os possíveis motivos inerentes ou não à técnica, que possam explicar essa credibilidade do meio fotográfico. Dentre os primeiros aspectos lembrados por ele estão: a institucionalização, através da fotografia, dos códigos da perspectiva que trazem uma racionalização da visão e da percepção, bem como a realidade do indício fotográfico, que é impresso óptica e quimicamente.

A esse respeito podemos dizer agora também eletronicamente. Os aspectos mecânicos - e não os manuais - do processo se unem, segundo ele, à ilusão da transparência do meio, da sua falta de sintaxe, dando essa extrema potencialidade de verossimilhança à fotografia. Se a fotografia como tecnologia teve, desde seus primórdios, uma intenção realista, científica, conforme aponta Coleman, a segunda batalha da fotografia foi liberar-se do imperativo do realismo.

Uma grande vertente assim começou a constituir-se, a dos fotógrafos e artistas que intervém no processo. Isso a partir de uma fotografia montada, encenada, construída em estúdio, por exemplo, ou na manipulação posterior das imagens fotográficas, como a fotomontagem e outras intervenções. (...) Coleman aponta essa vertente como a que se utiliza da fotografia segundo método dirigido, criando consciente e intencionalmente os acontecimentos com o objetivo expresso de fazer imagens a partir deles.

Dentro de uma intenção artística e longe de se contentar com o registro mecânico da realidade, alguns fotógrafos e artistas são apontados por Coleman, num breve histórico, a iniciar pela pioneira Julia Margaret Cameron. Acompanhando esse histórico vemos que a cisão entre fotografia de retratos e a representação realista se deu desde o início, na pesquisa de seus pioneiros, onde já se podem ver traços de idealização e ficcionalização da pessoa. A vontade de Cameron era aliar o real e o ideal. Dentro desse tipo de postura pode-se colocar também o trabalho de David Octavius Hill. A estética desses dois pioneiros e a intenção de valorizar a fotografia aproximando seus efeitos plásticos aos efeitos gerados por processos artísticos tradicionais foram alguns dos fatores que levaram ao movimento pictorialista de 1890 a 1920, nos Estados Unidos, França e Inglaterra. Mas a aproximação entre fotografia e as belas artes, como os pictorialistas desejaram era, de certo modo, superficial. isso porque os efeitos e motivos vindos da tradição artística eram simplesmente simulados através da técnica fotográfica. O grande problema foi a negação da linguagem fotográfica que já vinha se estabelecendo, em busca de uma falsa linguagem que imitava a linguagem pictórica e de outras técnicas como gravura e pastel, e que se adequasse às necessidades e ao gosto da época. Quanto à temática, houve também uma aproximação com os temas da arte tradicional e da literatura, a exemplo de Cameron e Hill. O pictorialismo entrou em um beco sem saída, teve sua dissolução, e só agora tem sido revisto e valorizado dentro da história da arte e da fotografia no que teve de produtivo".

Trecho de 'Rever: retratos ressignificados - A fotografia de retrato como fonte narrativa ficcional', de Rochele Boscaini Zandavalli.

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